O açaí é um fruto consumido há muito tempo pelos indígenas e
moradores da região amazônica, devido as suas qualidades nutritivas. É
também largamente utilizado para a produção de um refresco (“vinho” de
açaí). Nas regiões sul e sudeste vem sendo popularizado e consumido como
complemento alimentar, principalmente pelas pessoas que buscam vigor
físico.
O açaizeiro, Euterpe oleracea Mart., é palmeira tropical, perene,
nativa da Amazônia oriental, predominante ao longo dos igarapés,
terrenos de baixada e áreas com umidade permanente. Possuindo farto
perfilhamento desde 2 a 3 anos de idade possibilita, teoricamente, uma
exploração sustentada de suas populações nativas para palmito. A
exploração do palmito açaizeiro no estuário amazônico teve início a
partir dos anos 60 devido à escassez de palmito na Região Sudeste do
País, gerada pela extração indiscriminada e predatória. Atualmente esta
espécie é responsável por cerca de 90% da produção nacional. Possui
palmito do tipo doce, mas de consistência e textura mais rígida do que o
das espécies E. edulis, E. precatoria e E. espiritosantensis.
Manejo dos Açaizais Nativos: A melhor forma de
exploração de palmito de açaizais nativos é o sistema de manejo
sustentado, que exige atenção aos seguintes itens:
Inventário: estimar o número de açaizeiros por área
nas diferentes classes de desenvolvimento, definindo estoque imediato
para corte, número de palmeiras para reposição das plantas cortadas,
número e tipo de intervenções necessárias para aumentar ou regular o
estoque.
Colheita seletiva: partindo de uma área não
explorada, realizar a extração do palmito dos estipes (troncos) grandes
(com diâmetro à altura do peito superior a 10cm), para estimular o
perfilhamento e fornecer melhores condições de insolação e menor
competitividade com os perfilhos intermediários. A prática de deixar um
estipe grande por touceira aumenta a regeneração natural via sementes,
permitindo ainda a colheita de frutos juntamente com a produção de
palmito na mesma touceira. Deixar 50 ou mais plantas com um estipe
adulto (em pleno florescimento e frutificação) por hectare para
assegurar a preservação da espécie.
Intervalo de corte: é estimado em 4 anos, na mesma
área. No manejo sustentado, a produção, a curto prazo e por área, é
menor do que no sistema predatório. Porém, garante, a longo prazo, a
produção contínua das fábricas beneficiadoras de palmito e a qualidade
do produto (apenas em relação a diâmetro e textura).
Recuperação de açaizais degradados: dois procedimentos são indicados:
1. raleamento da touceira deixando 2 a 3 perfilhos mais
desenvolvidos por planta. Deixar a área em descanso (sem cortes) por 4
anos procedendo-se após, à colheita seletiva.
2. para açaizais muito degradados fazer ainda semeaduras sucessivas, a
cada dois anos, utilizando-se sementes de outras localidades. Plantio
por mudas pode ser usado em áreas com má distribuição de plantas. Usar
adubos orgânicos e minerais mediante análise de solo. Seguir os
procedimentos indicados para o cultivo.
Cultivo do Açaizeiro
Cultivares: a própria espécie botânica (com
variações morfológicas e de desenvolvimento marcantes dependendo do
local de coleta) ou híbridos entre essa espécie e o palmiteiro (Euterpe
edulis). Esses híbridos são plantas rústicas, que perfilham, precoces e
com boa qualidade de palmito.
Clima e solo: clima tropical úmido (temperatura
média anual acima de 22ºC e precipitação acima de 1.600mm por ano). Não
tolera geadas, especialmente quando jovem (até 60cm de altura). Não é
exigente em solos, crescendo mesmo em solos pobres e ácidos. No entanto,
desenvolve-se mais rapidamente em solos com maior fertilidade. A
produção de palmito em áreas de baixa fertilidade deve-se basear na
reposição de nutrientes através de adubações anuais parceladas.
Propagação: por sementes colhidas de palmeiras
selecionadas (diâmetro, número de folhas e sanidade), que devem estar em
conjunto com outras da mesma espécie e no mesmo estádio de
desenvolvimento, para evitar a autofecundação forçada. Marcá-las de modo
permanente, porém sem afetá-las, para fácil reconhecimento.
Colheita de sementes: colher frutos pretos e opacos,
quase cerosos, na estação seca (agosto a dezembro), em sua região de
origem. Colher somente os frutos que estão no cacho, que possui de duas a
cinco mil sementes. Colocar um plástico ou encerado embaixo da palmeira
e derrubar os cachos maduros sobre ele, recolhendo apenas os frutos que
caírem sobre o encerado.
Armazenamento das sementes: as sementes do açaizeiro
perdem rapidamente o poder germinativo, porém, é possível armazená-las
por até cinco meses, desde que acondicionadas em sacos plásticos bem
fechados e mantidos sob refrigeração (temperatura entre 5 a 10ºC).
Germinação: leva de 3 a 11 meses para se completar.
Despolpar os frutos para acelerar o processo germinativo e permitir a
obtenção de lotes homogêneos de mudas (germinação em 2 a 5 meses). Para
isso, acondicionar os frutos recém-colhidos em sacos plásticos e
umedecer. Fechar o saco, mantendo-o à sombra e à temperatura ambiente.
Depois de 3 ou 4 dias, atritar os frutos sobre as malhas de peneiras
grossas (de café ou de feijão), em água corrente, para separação da
polpa, ou imergir totalmente os frutos em água, trocando-a diariamente,
para não fermentar. Após três a quatro dias, despolpar.
Semeadura direta: é mais econômico do que o de
plantio de mudas. Para evitar ataque de insetos, roedores e outros
animais, enterrar as sementes entre 3 a 4cm. Semear de 2 a 3 sementes
por cova, com o auxílio de um chuço, e cobrir com terra. Não desbastar
as mudas. Efetuar semeaduras na mesma área a cada dois anos para manter
um povoamento de plantas em diferentes idades ou estádios. Semear de
agosto até dezembro.
Transplante de mudas: a utilização de plântulas com
raiz nua de 15 a 20cm, retiradas de açaizeiros nativos, deve ser
recomendada apenas para plantio em área adjacente.
Formação de mudas de viveiro: ganham-se 2 a 3 anos
em desenvolvimento, no campo, comparado com a semeadura direta. Colocar
uma semente despolpada por saco plástico de polietileno preto (20 a 25cm
de altura x 20cm de boca x 8 a 12mm de espessura e com 6 a 8 frutos)
cheio com 2 a 3,5kg de terra de boa qualidade, rica em matéria orgânica,
retirada da superfície da própria mata. Na falta, utilizar mistura de 3
partes de solo e 1 de matéria orgânica bem curtida (vide adubação do
substrato). Irrigar diariamente. O sombreamento do viveiro deve ser
semelhante àquele que a muda receberá quando estiver no local
definitivo. Plantar as mudas no campo, com 20 a 30cm de altura e com 3 a
4 folhas vivas (entre o décimo e o décimo quarto mês após a semeadura).
Adubação do substrato: usar solo de boa qualidade,
acrescido de uma fonte de matéria orgânica curtida (esterco de curral,
ou composto de lixo, ou composto de usina de beneficiamento de algodão,
ou palha de café) na proporção de 3:1, em volume. Acrescentar calcário
para elevar a saturação por bases a 60%, e mais 500g de P2O5 e 100g de
K2O por m3 do substrato (terra + esterco).
Preparo da área para semeadura ou plantio: sob mata
nativa, fazer antes uma roçada da vegetação mais baixa, poupando-se as
essências nativas de valor econômico; em áreas sem cobertura vegetal
fazer antes um sombreamento temporário com guandu, tefrósia ou leucena.
Em consórcio com seringueiras ou outras plantas perenes, seguir o mesmo
preparo de solo da cultura principal.
Plantio de mudas: Deve ser feito no período das
águas, com cuidado para não danificar a palmeira. Cortar o saco plástico
na altura de 2cm da base, podando as raízes e, em seguida, cortar e
retirar o saco e colocar a muda na cova com o torrão inteiro,
preenchendo os espaços vazios com terra de superfície, comprimento para
manter a muda firme.
Densidade de plantio ou semeadura: para o cultivo
solteiro: 2,5 x1,5m. Em áreas de mata nativa, efetuar a semeadura direta
(três sementes novas por cova) a cada um ou dois passos, cada linha
separada das outras por dois ou três passos. Repetir a operação a cada
dois anos, sempre com o cuidado de não pisar as plântulas de açaizeiros,
nativas ou não, já existentes. No cultivo consorciado, plantar duas a
três linhas de açaizeiros na faixa central da entrelinha do cultivo
principal, com o espaçamento entre as plantas de 2,5 ou 1,5m. É comum o
consórcio com seringueiras (Hevea brasiliensis).
Tratos culturais: roçadas periódicas para apressar o
desenvolvimento, poupando as essências nativas de valor. Não capinar,
devido ao sistema radicular superficial.
Manejo de perfilhos: para aumentar o desenvolvimento
da touceira e permitir corte de palmito a curto prazo, manejar os
perfilhos deixando 3 a 4 bem distribuídos por touceira, e um perfilho
novo por ano, a partir do terceiro ano de plantio. Assim, é possível
iniciar o corte para palmito entre o quarto e o quinto ano.
Colheita do palmito: colher somente em palmeiras que
apresentem DAP (diâmetro à altura do peito) acima de 10cm, poupando um
estipe por planta para a produção de sementes, quando a densidade for
baixa. Evitar queda brusca do palmito, pois isso causa escurecimento
interno e rápida decomposição. Fazer o corte alto (50 a 80cm) para
reciclar os nutrientes para os perfilhos na touceira.
Intervalo ou ciclo de corte: em torno de 2 a 4 anos, na mesma touceira, para palmito de primeira qualidade.
Adubação: Normalmente as áreas de distribuição
natural do açaizeiro são ricas em nutrientes, não devido às condições de
solo, mas sim à rápida decomposição da matéria orgânica (“litter”) em
sua superfície. Em áreas muito degradadas (mata e açaizal) fazer
adubação para recuperação após análise do solo.
Doenças e pragas: A principal doença do açaizeiro é a
antracnose. Ela só é limitante em condições de viveiro e em regiões
frias e úmidas. Em condições de campo, não há nenhuma doença séria que
mereça controle. Já com relação a insetos, temos os de viveiro
(gafanhotos, cigarrinhas, cochonilhas, pulgões e ácaros) e os de campo
(especialmente o coleóptero Rhyncophorus), que em culturas e explorações
bem manejadas, não chegam a ser problema.
Duração e pós-colheita do palmito: Após colhido,
dura no máximo 5 a 7 dias, quando mantido com 4 capas (bainhas
externas). Escurece e apodroce devido à ação de fungos, comuns em
matéria em decomposição. O tombo e o corte acidental de partes do
palmito aceleram a decomposição.
Fonte: Boletim, IAC, 200, 1998.
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